segunda-feira, 24 de julho de 2017

Cultura e resistência: Carimbó Tamgará da Serra I

Ainda com alguns dias de atraso, esta postagem ganha consistência na alegria das crianças, dos jovens, adultos e idosos que dela participaram. Nesse sentido, faz-se necessário algumas considerações iniciais. O Grupo de Carimbó Tangará da Serra faz parte de um conjunto de ações socioeducativas desenvolvidas na comunidade agrícola de Cristolândia-Marapanim/PA. 

O foco de atuação do grupo constitui-se em duas linhas de trabalho: Educacional e Ação Comunitária. No primeiro, as atividades são desenvolvidas diretamente com crianças, adolescentes, jovens e idosos cujas as práticas educativas de socialização, de reflexão ética e humana buscam o fortalecimento de análise e atitude crítica comunitária. Já no segundo grupo de ações, o foco são as atividades articuladas junto aos diferentes grupos que também atuam na comunidade; para isto, as ações próprias do Grupo Tangará desenvolvem-se em parceria com o time de futebol Independência Futebol Club; Equipe Os Gaiatos; grupo gestor, funcionários e professoras da Escola Municipal de Ensino Fundamental Monsenhor Edmundo Igreja; Coordenação da Associação Comunitária e das pessoas que atuam como responsáveis diretos pela Igreja Católica na comunidade. 

Essas ações ocorrem tanto na cedência de espaço físico para atividades de atendimento Médico, de palestras, oficinas e recreações o que possibilita a vivência comunitária nas mais diversificadas frentes de atuação, agindo como elemento de zelo à saúde e ao bem estar das pessoas da comunidade. Foi pensando assim que no último dia 24 de junho de 2017 o Grupo de Carimbó Tangará da Serra desenvolveu atividade socioeducativa junto às crianças e comunidade de modo geral. A atividade desenvolveu-se através da idealização do I Lual de Carimbó em alusão às festas juninas de São João.

Todos sabem que concorrer com um jogo de futebol em pleno inicio de campeonato na comunidade chega a ser até desafiador, mas a determinação das crianças e do grupo foi fundamental para o êxito da atividade.

O objetivo da ação centrou-se na busca de possibilitar maior integração comunitária com vista a fortalecimento das práticas culturais do período junino. Para que tivesse êxito foi feita a divulgação nas mídias sociais junto aos filhos e amigos de Cristolândia que residem em outros/as Municípios-Estados-Nações para que assim pudesse ser mobilizado o maior número de pessoas para se confraternizarem-se e vivenciarem momentos comunitários entre os parentes e amigos.

O cartaz produzido para a divulgação do evento foi veiculado nas mídias sociais: facebook, instagran, mensseger, google+, etc.


 


Antecedendo a execução do I Lual foram realizadas duas reuniões, na casa da Dona Vitalina, entre componentes do Grupo com o intuito de acertar detalhes finais da programação. Uma dessas reuniões ocorreu no dia 23/06, data que antecedeu o evento. Na manhã do dia 24/06, como estava na programação, foi construída uma fogueira para que fosse acendida no período noturno durante a realização da roda de Carimbó. No período da tarde, o Grupo se reuniu em frente à Escola da Comunidade para abertura dos trabalhos.

Mesmo com o jogo de futebol acontecendo no campo do Independência, aos poucos as crianças chegavam e dispunham-se a participar; entre eles e elas havia aqueles que pegavam nos instrumentos e iniciavam músicas de carimbó de Mestre Camilo e Mestre Cezar. Após isso, iniciamos com uma roda de carimbó e logo em seguida a gincana..

    









Início da gincana com as crianças.

Tarefas:
1 - Dança da laranja: 


 

2- Caminhar com ovo na colher. 

   

 3- Corrida de saco. 


   








 4- Responder as perguntas.

 

5- Cantar, tocar e dançar uma música de carimbó.

  

Para nossa surpresa e alegria, já próximo ao final da programação vespertina recebemos a visita do Mestre Pão, filho da 'terrinha' e cantador de Carimbó de Marapanim, que sabendo da programação promovida pelo Grupo deslocou-se junto com a esposa, filhos e netos até nossa comunidade e participou conosco cantando músicas de sua autoria.

   

A partir das 19h o grupo direcionou-se para a sede recreativa do Clube de Futebol para dar continuidade às ações. Acendeu-se a fogueira; em seguida, o Grupo de Carimbó Tangará da Serra deu início as atividades apresentando músicas inédita de autoria de Mestre Cesar e demais componentes.

Fotos/vídeos


   



















Durante a programação o mediador Evandro do Vale fez o convite aos presentes para se manifestarem à participar da brincadeira de ‘passar fogueira’ como ‘compadre e/ou comadre de fogueira’. Talvez por a muito tempo isto não ser mais praticada na comunidade, poucos foram aqueles e aquelas que se manifestaram. Mesmo de forma tímida alguns se aproximaram da fogueira, mas não sabiam ou mesmo lembravam-se como a cerimônia era feito. Isso aconteceu principalmente entre as criança e adolescentes.

Enquanto alguns prestigiavam a fogueira a roda de carimbo continuava. 

Por volta das 20:30h houve a apresentação da Quadrilha “Explosão Junina’ formada por crianças e adolescentes da comunidade, estudantes da Escola Monsenhor Edmundo Igreja. Este grupo de brincantes foi um esforço coletivo entre as professoras da escola, a coordenação da comunidade de Cristolândia e os alunos e alunas da escola. A apresentação foi brilhante, regada a olhares afetuosos de pais, mães, irmãos/irmãs e familiares que vibravam ao ver seus filhos/filhas e/ou netos/netas bailando em trajes confeccionados na própria comunidade. 

Fotos

  


Após a apresentação da Quadrilha Junina havia sido programado um Bingo Filantrópico, porém este foi transferido para o mês de julho em data mais oportuna a ser definida e amplamente divulgada. Em seguida o grupo de Carimbó continuou sua apresentação musical. A atividade encerrou as 23h40min. 

Deve-se considerar que desde quando a atividade foi divulgada houve adesão considerável entre os filhos e/ou amigos de Cristolândia demostrando-se motivados a participarem do evento. Este fato pode ser confirmado frende a quantidade de pessoas que se fizeram presentes na ação desenvolvida. Esta aproximação entre os amigos e parentes, nos permite considerar que o apoio às atividades socioeducativas e culturais na comunidade precisam ser cada vez mais prestigiadas, pois dessa maneira a vida em sociedade torna-se mais afetuosa e compartilhada, mesmo que as tensões cotidianas, pelas quais todos e todas passam, tente nos convencer que não vale apena. 

Quanto à categoria Resistência, devo ressaltar que a muito o Movimento dos/as Carimbozeiros/as lutavam para o devido reconhecimento dessa prática artística e cultural. O momento chegou em 2014 com o reconhecimento do Carimbó como Patrimônio Imaterial Brasileiro. Contudo, ressaltamos que institucionalizá-lo não basta. É preciso reconhecer que como manifestação vinculada a grupos marginalizados, cujo processo de exclusão e preconceito sobre quem através deste ritmo se manifestava era comum; contudo, não pode mais ser aceito como normal e práticas como essas precisam ser combatidas. 

Assim, faz-se necessário o fortalecimento de iniciativas que, efetivamente, possibilitem a visibilidade do carimbó nas comunidades, não apenas como algo institucionalizado, mas deste enquanto registo de materialidade histórico-social de grupos que usaram e continuam usando a prática cultural do tambor de chão como manifesto contrário ao processo excludente implementado pelos diferentes desdobramentos da globalização neoliberal. É dessa maneira que o Grupo de Carimbó Tangará da Serra integra-se ao movimento carimbozeiro como manifestação contrária ao processo de tentativa de nos fazer esquecer de nossas manifestações culturais.

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