domingo, 4 de outubro de 2015

Foucaut tinha razão







Era uma tarde morna, como todas em Boa Vista-RR. Eu passava por uma das ruas de um bairro 'nobre' desta capital, quando me deparei com a imagem retratada acima. No muro de um terreno baldio, lá estava ela, destoando a formalidade que aquele bairro transmite.
Provocativa, demonstrava o tom subjetivo que levou o artista a manifestar sua indignação frente as provocações cotidianas que o capitalismo neoliberal nos traz.






É possível que nessa maneira de manifestar-se, não somente da frase construída e registrada na foto, mas também nas palavras do filósofo, possa ser entendido como um ato de resistência contrário ao capitalismo neoliberal criador das mais diferentes maneira para continuar excluindo e mantendo sua forma de controle.
Cabe indagar o que estaria por traz da afirmativa presente na frase "Foucaut tinha razâo?
Ao que ela nos conduz?
Faço esse levante, pois M. Foucault é, sem dúvida alguma, um dos nomes mais significativos do pensamento Pós-estruturalista.
Suas obras provocaram grande debates no meio acadêmico. Desde a “História da Loucura” à “A História da Sexualidade”, que apesar de terem ficado inacabada em função de sua morte prematura; podem ser referendadas no campo da Filosofia do Conhecimento. 
Contudo, antes a estas, com apenas 28 anos de idade, publicou “Doença Mental e Psicologia”. 
Mas,  sua produção intelectual só ganha força com “História da Loucura” (1961), resultante de sua tese de doutorado defendida na Sorbonne. Nessa obra o filósofo explora questões que o teriam conduzido, nos séculos XVII e XVIII,  estudar a situação de marginalidade com que eram tratados aqueles e daquelas que eram apontados como desprovidos da capacidade racional. 
Suas reflexões sobre as relações de poder, o saber e o sujeito foram inovadoras. Digo isto, pois sua abordagem a respeito destes temas transgrediram o pensamento da época, instaurando uma outra maneira de entendimento sobre questões que  movimentam os estudos de pensadores sobre a sociedade pós-modernas.
Essa  postura é inaugurada nas obras “Vigiar e Punir” e “A História da Sexualidade”, visto que passa a ser concebido como um dos grandes nomes do pós-estruturalismo. As 'relações de poder’ são amplamente abordada pelo filósofo, rompendo o tradicionalismo como é tratado pelo estado constituído, alongando o debate para a vida das pessoas e suas relações cotidianas. 
Dessa maneira, Michel Foucault firma que as relações de poder atuaria para além da função repressora, institucionalizada pelo estado, mas enquanto articulador de verdades e de saberes.
O campo de estudo do filósofo se fundamenta naquilo que de mais particular presentifica-se na cultura: a loucura, a Medicina, as Ciências Humanas e o 'saber'.
A trajetória de intensa produção científica (livros, ensaios, entrevista, etc.) é interrompida em junho de 1984, quando o agravamento da AIDS provocou seu falecimento. O filósofo francês teve uma trajetória de vida vinculada às lutras contra o preconceito, defendendo principalmente as minorias.
É possível que a frase nos aponte que as provocações de que foram reveladas  pelo filósofo ainda esteja e devam ser revistas ainda nos dias de hoje.   A frase seguinte nos demonstra a intensidade da reflexão de Foucoault:



quarta-feira, 9 de setembro de 2015

PROJETO: Sentiver - Inspiração, conteúdo e leveza




Há tempos venho tentando produzir algumas palavras sobre minha amiga. entre os tantos que construí durante  minha estada em Sorocaba, São Paulo. 
Conheci Carmem, pelo menos é assim que a trato, em 2012 nas aulas do curso de Mestrado em Educação, na UNISO/Sorocaba-SP, mais precisamente nas aulas da disciplina  Meio ambiente, cultura e vida cotidiana, ministrada pelo professor Marcos Reigota. Era lá que o grupo todo se encontrava, expunha seus trabalhos e ouvíamos uns aos outros em um exercício de resinificação de nossas pesquisa; mas, principalmente nossos projetos de vida e de acolhimento uns ao outros. Eram: eu, Carmem, Marta Catunda, Carmem Silva, Moura, Maurício Massari, Maria Aparecida, entre outros e outras que lá também se sentiam atraídos por nossas propostas de trabalho e pela maneira de como nosso orientador conduzia as orientandos.
Como não se sentir acolhido pelo sorriso de Carmem!?
Contávamos nossas histórias, viajávamos para eventos científicos juntos, compartilhávamos nossas angústias. Tudo com grande respeito, companheirismo e alegria. As vezes até mesmo tomar um cafezinho após as aulas era motivo para uma boa conversa.
Na época ela já confidenciava-nos que, anterior a esse momento teria desistido de prestar exame ao Mestrado para conhecer e viajar ao Chile. Coisa de artista! Eu ria de suas histórias e eles/elas riam quando eu contava as minhas, principalmente sobre a dificuldade de me ajustar aos horários, ao gosto dos alimentos, ao ritmo paulistano de viver.
Algo que ainda recordo com clareza era quando ela comentava de como conduzia suas aulas na escola em que trabalhava e da maneira como isso ressignificava o espaço educacional e o entendimento sobre o ensino de Artes na escola. Falava ainda de suas angustias de, em muitas vezes não ter sido bem interpretada por apresentar uma proposta pedagógica que destoava da maneira convencional e conteudista de ministrar tal disciplina. Dizia ela: "acho que as vezes eles pensam que eu sou maluca ou que tô inventando coisa pra não ministrar o conteúdo...rssss".
Juntos, caíamos na gargalhada!
As vezes o maior barreira não é exercitar os experimentos que nos propomos a fazer, mas nos apercebermos que estávamos, e ainda estamos, no caminho certo. 
Por toda essa alegre de Carmem, a época, escrevi um pequeno texto à ela; porém, deixarei o texto completo para um outro momento. Segue apenas um fragmento: 

"quando chegas
o sorriso invade nosso espaço
como o gosto bom de um copo com vanila (...)"

No vídeo acima você poderá conhecer um pouco do significativo trabalho de Carmem, o que rendeu a ela o Prêmio Victor Cevita/2013.
Nele, Carmem leva os alunos do 6º ano da E. E. Professor Benedicto Leme Vieira Neto, em Salto de Pirapora, a 130 quilômetros de São Paulo, a refletirem sobre a maneira como se movem. Inspirados na coreógrafa alemã Pina Bausch (1940-2009) e nos jogos teatrais desenvolvidos pela pesquisadora norte-americana Viola Spolin (1906-1994), os estudantes criaram coreografias com base em sua história pessoal e ocuparam, com sua intervenção artística, uma área verde da escola que não era usada até então.
E é assim, que mais uma de minhas interlocutoras, dá sentido a sua existência.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Carimbó de Marapanim: cultura e vida cotidiana







'Quando o meu povo fala...
poesia
Quando o meu povo canta...
melodias...
sonhos...
angústias
utopias.'
(Huarley Mateus)


A dança do Carimbó é tipicamente de roda. Originária do litoral do Estado do Pará, no Brasil, configura-se como uma das manifestações culturais representativas do cotidiano das pessoas moradoras das comunidades pesqueiras do litoral paraense.
O nome Carimbó faz alusão ao tambor de chão que é utilizado como instrumento musical para essa dança. Apesar de ter ganhado o gosto do povo das áreas urbanas é uma dança que originou-se entre o povo mais simples, moradores de pequenas comunidades de pescadores no litoral paraense. Muitos deste, filhos de indígenas com não índios, que herdaram as maneiras de compor músicas a partir das vivências cotidianas transmitiram-lhes através da tradição oral, Essa condição, frente a presença dos negros no litoral paraense fez com que a dança sofresse influências diretas, principalmente no vestuários dos dançantes
Ao longo dos anos os Mestres de Carimbó permaneceram em suas comunidades compondo e tocando as músicas que faziam. Atualmente isso tem ocupado o espaço público e em setembro  de 2014 o carimbó foi declarado patrimônio cultural e imaterial do Brasil. 
Há aqueles que dizem que por ter sido a música dos pescadores da ilha do Marajó, tenha atravessado a baia do Guajará, através das cantorias dos pescadores, chegando até a região de praias paraense. Contudo não há dados que confirmem isto.
Mais precisamente onde hoje é a cidade de Marapanim e Curuçá, o ritmo se solidificou, ganhando o nome que tem hoje. A pequena agrovila de Maranhãozinho, em Marapanim; e Ara-quaim, em Curuçá, reivindicam o título de berço do Carimbó. 
Não entro nesse mérito, pois acredito que o Carimbó representa muito mais que isto e está além do título de onde tenha surgido - se isso é possível de ser identificado! - e sim no significado que ela dá a existência das pessoas dessa região.

quarta-feira, 29 de julho de 2015


E se Jesus viesse à escola?



Do «professor», que é quem “professa”, transformando-se essa profissão em missão; que se transforma, se for um bom professor, em «mestre», até com «discípulos», qual líder religioso; à «cadeira» que ele lecciona e que corresponde a um lugar na hierarquia, a «cátedra», o lugar onde tem assento esse que “professou”, seja ele ou o bispo que reside e se senta na «catedral»; passando pelo que profere esse digno «mestre» na sua alocução máxima, a «oração» de sapiensia, nada parece escapar à herança religiosa no universo escolar.
Contudo, e como as palavras nos escapam pelos ouvidos sem que delas demos conta, hoje olhamos para o actual modelo escolar como se ele tivesse todo o tempo do mundo, sendo que, nessa sua forma actual, ele foi inventado há cerca de dois séculos, um muito-pouco-tempo na espessura da nossa civilização, tendo ido buscar ao modelo cristão o léxico que hoje em nada nos soa religioso. É que, de facto, as grandes estruturas de pensamento movem-se numa diacronia que não assenta no correr rápido dos anos ou das décadas, mas sim nos séculos longos em que as palavras das línguas vão ganhando matizes e recriando significados. Essa é a velocidade das estruturas de pensamento, das mentalidades.
E é nessa velocidade que a escola, por mais laica que ela nos pareça, é recorrentemente um lugar desejado pelo universo das religiões. E é-o pelo simples facto de que as religiões são mensagens e as mensagens são para transmitir, para resultar em ensinamento. Religião é comunicação e, por isso, é ensino.
E neste coincidente sentido, o da escola e o do religioso, o espaço da comunicação de saberes é o espaço, por excelência, para que se percebam todas as tensões e todas as coexistências entre ambos. A escola é, oficializada e tornada obrigatória, o mais importante normativador da nossa civilização. O que se veicula na escola é aquilo que enquanto colectivo achamos ser o fundamental da nossa identidade e da formação que queremos dar às futuras gerações. Sim, é como se de um “saber oficial” se tratasse.
Sendo o terreno por excelência da transmissão de conhecimento e de identidade, a religião não poderia estar fora dele. E nunca o estaria porque muitas temáticas tratadas na sala de aula se cruzam com aspectos religiosos. Mas cruzam-se ainda porque herdámos uma tradição muito forte de as religiões terem, de facto, um espaço escolar de ensino.
Assim se tem passado em Portugal ao longo do período democrático, não se tendo entrado em ruptura com a herança do Estado Novo. A uma disciplina obrigatória formulada e leccionada pela Igreja Católica, o regime democrático apenas acrescentou a sua não obrigatoriedade, primeiro, e estendeu, depois, essa possibilidade escolarizada a outras confissões.
De forma bem diferente, muito da restante Europa seguiu outros caminhos na viragem de século. Não só a erosão das identidades religiosas tradicionais levou a que deixasse de fazer sentido um monolitismo religioso na escola, como a própria diversidade crescente do tecido social fortaleceu a necessidade de se abandonar um paradigma de claro favorecimento das confissões que conseguiam ter meios para tomar conta dessa prorrogativa de ter um espaço lectivo na escola dedicado aos seus crentes.
A multiplicidade religiosa que se generalizou na Europa levou a que se equacionasse um campo de saberes plurais que ajudassem os alunos a compreender o seu mundo e não apenas a fortalecer a sua identidade religiosa. Mais, o modelo confessional nem sequer já é significativamente válido para as religiões e confissões maioritárias na medida em que se tornaram diminutos os valores de adesão a essas turmas de natureza confessional – situação que hoje se passa em Portugal.
A esta transformação da realidade interna se juntou o olhar internacional e os desafios que a política e os média constantemente lançam sobre os nossos jovens através de um crescendo de tensão em torno do radicalismo religioso e do terrorismo. A religião é hoje omnipresente nas produções televisivas, trate-se de ficção ou de documentário ou jornalismo.
Numa sociedade plural, livre e que fomente o respeito pela diferença, possibilitando aos seus cidadãos uma tomada de decisão assente em visões de rigor, implica um regresso à escola. Longe do modelo português, hoje muitos países desenvolveram modelos de ensino em que a diversidade religiosa e as múltiplas dimensões da religião e da espiritualidade são levados aos alunos sem sentido confessional, mas como parte de uma formação integral de cidadania.
Seguindo esta necessidade cada vez mais consensual na nossa sociedade, acaba de lançar um projecto pedagógico e cívico destinado a fornecer ao universo escolar materiais e debates que enriqueçam os nossos educandos com uma visão plural e complexa desse fenómeno sem o qual é impossível compreender o nosso mundo, seja-se religioso ou não.
Parte fundamental desse projecto é a formulação de uma disciplina sobre «Religiões do Mundo» que será já no próximo ano lectivo, levada à sala de aula na escola Os Aprendizes, em Cascais. Com esta disciplina pretende-se, não apenas fornecer aos alunos os elementos, os conhecimentos, sobre religião, mas também abrir as portas da sua vida às dimensões de espiritualidade que tão afastadas se encontram das prioridades num mundo onde os valores parecem plenamente secundarizados.
E, exactamente, neste sentido, mais que “dar matéria”, mais que uma História das Religiões, esta cadeira de «Religiões do Mundo» irá ajudar os educandos a compreender as dimensões interiores do fenómeno religioso enquanto dimensão essencial na definição do Homem na maioria das culturas, fomentando um lado experiencial no contacto com as religiões e as espiritualidades. Sim, porque conhecer as religiões, num sentido positivo, não basta. É necessário compreender o valor das suas dimensões espirituais, a chave para se aceder ao que, de facto, distingue a religião de outra qualquer actividade de pendor meramente social.
Neste sentido, a transversalidade deve ser o principal elemento desta equação. Todos os jovens carecem de formação sobre religiões e espiritualidades. Sejam de famílias religiosas, ou não. Porque mesmo para os jovens com formação e prática religiosa, um âmbito disciplinar como o apresentado leva a um melhor conhecimento das especificidades da sua fé e a um respeito pelas fés diferentes.
Não pode ser de simples saber livresco que se fundamente este campo disciplinar. Ao falar de Liberdade, Fernando Pessoa dizia sobre Jesus que não “consta que tivesse biblioteca”. É verdadeiramente aqui que reside o cerne: não é só com livros que se consegue conhecer. A palavra francesa ajuda-nos a perceber melhor o que está em jogo: connaître = con+naitre, “nascer com”. Só se conhece se, de alguma forma, se nascer com aquele que se pretende conhecer.
Neste final de ano lectivo, esperamos que este seja um primeiro passo, dado de forma inovadora e pioneira, para que aos nossos alunos chegue um conhecimento isento, fomentado no respeito pelo outro, e que nos permita ter uma cidadania mais activa e esclarecida.
Que mais escolas se juntem a este projecto-piloto!
Paulo Mendes Pinto, director da área de Ciência das Religiões na Universidade Lusófona
(http://lifestyle.publico.pt/religiaonacidade/351514_e-se-jesus-viesse-a-escola), Acessado em 29/07/2015.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Movimento Roraimeira: expressão artística na amazônia brasileira



O que se conhece por Movimento Roraimeira tem suas origens na década de 1980. Segundo seus idealizadores, este movimento tem forte influência do Movimento Modernista e do Movimento Tropicalista ocorrido no Brasil a partir de 1922, respectivamente. Se assim for, eu arrisco um comentário: seria, então, o Movimento Roraimeira, um "modernismo tardio na/da Amazônia". 
No documentário acima, podemos observar uma das finalidades a qual esse grupo de artistas se propõe: promover a beleza estética das riquezas naturais do estado de Roraima, da vida na região amazônica e sua dinâmica social contemporânea. 
É fato que muitos estudiosos tem demonstrado interesse em estudar esse movimento cultural; alguns destes tem enfocando os aspectos sócio-culturais para debater a respeito da identidade regional.
Devo ressaltar que hoje, quando se fala em Movimento Roraimeira, é necessário ser apontado não apenas para um grupo de artistas que assumem a beleza estética amazônica como pertencimento. Penso que ele ganhou uma dimensão artística, cultural, política e social que está para além de Eliakin, Zeca e Neuber, apenas. Acredito que sua fase de resistência e afirmação cultural ganha outra dimensão. Hoje sua contribuição é fundamental para se pensar o que é produzido enquanto arte e, mais especificamente sobre a vida cotidiana na/da Amazônia.
Para não me alongar tanto, prefiro que você ouça, do Trio Roraimeira, as observações que eles mesmo formaram sobre suas vivências e experimentos sobre a dinâmica sócio-cultural amazônica.

domingo, 28 de junho de 2015


Sobre Marcos Reigota.

Em fins do ano de 2010. Apresentei uma proposta de dissertação de Mestrado à UNISO - Sorocaba/SP. Era resultante de longa caminhada e vivências de pesquisas em comunidades da Amazônia brasileira. Havia escolhido esta universidade por recomendação de um grande amigo de militância nos movimentos sociais quando de minha juventude no Pará, Oswaldo Piedade. A decisão tornou-se mais forte ainda quando constatei que lá estava uma das referências que utilizávamos para aprofundar os debates por uma sociedade mais justa e menos excludente.  
A proposta que apresentei apontava sobre o cotidiano das escolas presentes nas comunidades indígenas do Alto São Marcos-RR e sua dinâmica na fronteira Brasil/Venezuela. O contato linguístico, a dinamização cultural, o forte comércio alavancado pela presença dos Chineses e Árabes; e toda a efervescência da região de fronteira da Panamazônica brasileira foi acolhida pelo professor Marcos Reigota. 
Durante o curso, muito do que havia lido em suas obras fora ampliado, pois presenciava, não apenas o Professor, mas o Ser Humano, Sujeito da História. Foi um período de produção científica intensa; contudo, não é tão simples assumir uma postura política e social como a que construímos no grupo de pesquisa coordenado por ele. Digo isto, por ter plena convicção do enfrentamento que isso  causa no pensamento "politicamente correto" que ainda transita no espaço publico brasileiro, e não só. E é essa postura, da contra-corrente latino americana, que também dá sentido a minha existência,
Bem, mas quanto a este assunto, prefiro não alongar e deixá-lo para um outro momento. 
Sobre a trajetória e o significado que o Professor Marcos dá a sua existência, sugiro visitações em sua extensa produção científica, assim como às de nossos interlocutores.

quarta-feira, 17 de junho de 2015


ELIAKIN RUFINO


O que falar de Eliakin Rufino de Souza? 

Conhecido no meio artístico como Eliakin Rufino é roraimense daqueles de tomar Caxiri de manhã e nas refeições acrescentar Giquitáia. Nascido em Boa Vista (27/05/1958) é reconhecidamente poeta, escritor, compositor, cantor, produtor cultural, jornalista, ativista; mas, principalmente, professor de filosofia.
É, sem dúvida alguma, uma das vozes mais significativas do que ficou conhecido como a expressividade literária e artística contemporânea em Roraima. Em parceria com, outros dois grandes artísticas, Neuber Uchoa e Zeca Preto, iniciaram, na década de 1980, um manifesto artístico em Roraima, repudiando o colonialismo musical que imperava na Amazônia. Intitulado de Movimento Roraimera, satirizavam e ainda satirizam o "pensamento politicamente correto" que permeia a música e a arte produzida apenas para o consumo. Em rítimos e tons despojados emprestam suas vozes para denunciar amores dispersos, fronteira culturais, o preconceito, a intolerância, o conformismo das pessoas frente as mazelas sociais que o capitalismo neoliberal tem causado à região amazônica e a vidas que nela resiste.
Sou daqueles de acompanhar seus trabalhos a distância. As vezes assisto os interpretes de seus textos deliciando uma boa Damorida na Casa do Neuber. E assim, vez ou outra, me vejo cantarolando suas músicas nas viagens que faço pela Amazônia, e não só. Mas é no espaço público, de debates e críticas literária, onde melhor os encontro. A partir de seus textos, rediscuto o entendimento de identidade, de pertencimento e etnopoesia na Amazônia roraimense.
Espero que este breve texto desperte em você o interesse em conhecê-los

terça-feira, 26 de maio de 2015

'Um estrangeiro, o estranhamento e a vida cotidiana na terra de Makunaima'

O vídeo aponta questões sobre a vida cotidiana das comunidades pertencentes a Terra Indígena do Alto São Marcos-RR. Resulta de exposição realizada por Huarley Monteiro (14/04/2015) na semana em comemoração aos povos indígenas promovido pela Secretaria de Assuntos Indígenas do  Governo de Roraima-RR.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

ELIANE BRUM »
A mais maldita das heranças do PT
Mais brutal para o Partido dos Trabalhadores pode ser não a multidão que ocupou as ruas em 15 de
março, mas aquela que já não sairia de casa para defendê-lo em dia nenhum.

"Na tese do Brasil
polarizado, onde
ficam os mais de 37
milhões que não
votaram nem em
Dilma nem em
Aécio?"

"O partido das ruas
perdeu as ruas
porque acreditou
que não precisava
mais caminhar por
elas"

"Tão ou mais importante do
que a corrupção, que não foi
inventada pelo PT no Brasil, é
o fato de o partido ter traído
algumas de suas bandeiras
de identidade"

:"A síntese das
contradições e das
traições do PT no
poder não é a Petrobras, mas
Belo Monte"

"O sequestro dos sonhos de
pelo menos duas gerações de
esquerda é a herança mais
maldita do PT, ainda por ser
desvendada em toda a sua
gama de sentidos para o
futuro"

"Para o PT, a herança mais maldita que carrega é o silêncio
daqueles que um dia o apoiaram, no momento em que
perde as ruas de forma apoteótica. O PT precisa acordar,
sim. Mas a esquerda também."

Assim é o tom do texto de Eliane Brum. Boa leitura!

(Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção
Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina
Quebrada, Meus Desacontecimentos e do romance Uma Duas. Site:
desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter:
@brumelianebrum )

domingo, 19 de abril de 2015

COM MILTON HATOUM EM/‘NA GARGANTA DO DIABO’

Msc. Huarley Mateus do Vale Monteiro
(Universidade Estadual de Roraima - UERR)

RESUMO
O que me traz para este momento é o livro de crônicas de Milton Hatoum (Um solitário à espreita) lançada em 2013. Esta obra reúne uma coletânea de textos publicados pelo autor em diversos periódicos brasileiros. Lançada pela Editora Companhia das Letras, as temáticas vão desde os experimentos vividos nos tormentosos anos da ditadura militar que acometeu a nação brasileira; percorrendo por deslocamentos em outros espaços, que não apenas o brasileiro; vagueando em um fluxo de memória que dão, aos poucos, significados a denúncias, atrocidades e alegrias entre as personagens e suas mais diferentes performances, digo performance no sentido de Benjamin (1996). A referida obra foi alvo de reflexões, teórica e pedagógica conduzida por mim, no curso de Letras, da Universidade Estadual de Roraima/UERR - Campus Rorainópolis -, durante o segundo semestre de 2013. Como resultado desse relevante momento surgiu este ensaio. Sendo sabedor que apesar da obra de Hatoum trazer enfoques sobre a expressividade amazônica, penso que ela transgride o convencionalismo regionalista, apontando para deslocamentos transfronteiriços, pontuando relações culturais de um Brasil diverso, denuncias sociais de maneira inteligente em uma técnica textual requintada. Neste sentido, trago para este espaço, o texto que finaliza a obra (Na garganta do diabo). Abordo este, tendo por base as reflexões de Marcos Reigota (2003), Leandro Guimarães (2009), Huarley Monteiro (2013), Valdo Barcelos (2006), Hall (2006) e Néstor Canclini (2008).
Palavras-chave: interculturalidade, deslocamentos, identidade, Milton Hatoum, crônicas.

            RESUMEN
Lo que me trae  para este momento  es el libro de crónicas de Milton Hatoum (Un acecho solitario) lanzada en 2013. Esta obra reúne una colección de textos publicada por el autor en diversos periódicos brasileños. Lanzada por la Editorial  Companhia das Letras, las temáticas van desde los experimentos vividos en los tormentos años de dictadura militar que afectó  la nación  brasileña; percudiendo por desplazamiento  en otros espacios, que no apenas el brasileño; vagando en una secuencia de memoria que dan, a los pocos, significados a denuncias, atrocidad y alegrías entre los personajes e sus mas diferentes actuaciones, digo actuaciones en el sentido de Benjamin (1996). La referida obra fue objetivo de reflexiones, teorías y pedagógica realizada por mí, en el curso de Letras, de la Universidad Estatal de Roraima/UERR- Campus Rorainópolis-, durante el segundo semestre de 2013. Como resultado de ese relevante momento surgió este ensayo. Siendo sabedor que a pesar de la obra del referido autor, traer enfoques sobre la expresividad amazónica, pienso que ella transgrede el convencionalismo  regionalista, apuntando para desplazamientos transfronterizos, puntuando relaciones  culturales de un Brasil diverso, denuncias sociales de manera inteligente en una técnica textual requintada. En este sentido, traigo para este espacio, el texto que finaliza la obra (En la garganta del diablo). Abordo este, teniendo por base las reflexiones de Marcos Reigota (2003), Leandro Guimarães (2009), Huarley Monteiro (2003), Valdo Barcelos (2006), Hall (2006) y Néstor Canclini (2008).
Palabras-clave: interculturalidad, desplazamiento, identidad, Milton Hatoum, crónicas.

INICIANDO A CAMINHADA

“Odeio Carlos III e o Marquês de Pombal”, disse uma voz ao meu lado. ‘Quando eles expulsaram os Jesuítas, destruíram um projeto civilizador. Foi uma tragédia para todos nós.’
Enquanto o guia falava em espanhol, os turistas o olhavam perplexos. [...]”
                                 (MILTON HATOUM, 2013, p.279)
Quero inicialmente destacar que não são poucos os comentários que mencionam a qualidade da obra de Milton Hatoum. O fragmento acima citado é parte de uma das crônicas que compõem sua mais recente obra. Tal citação inicia o texto, já demonstrando o viés histórico e reflexivo do autor.
No entanto, antes de iniciar as observações que proponho para este momento, julgo ser oportuno fazer uma breve apresentação sobre o autor. Milton Hatoum inicia sua vida literária com o romance, Relato de um certo Oriente (1989). Após isto, vem recebendo significativa atenção, tanto da crítica especializada quanto de leitores mais atentos. Em 2000, com o lançamento de Dois irmãos tornou-se, sem dúvida alguma, um dos escritores sempre presentes nas menções feitas aos grandes autores da literatura contemporânea brasileira. Cinzas do Norte (2005) e Órfãos do Eldorado (2008), acrescido a estes a coletânea de contos intitulada Cidade Ilhada (2009), fizeram com que ele permanecesse no foco de debate da crítica e sendo bem aceito pelo público leitor.
Milton Hatoum é desses poucos escritores brasileiros que retratam, através de um discurso histórico, a dinâmica social e os experimentos vividos cotidianamente com tanta perspicácia. Além disto, são raros os que, em tão curto espaço de produção literária, possuem agudo teor crítico em suas obras. O reflexo desse exercício tem lhe conduzido a receber relevantes premiações literárias e ser merecedor de traduções em diferentes línguas.
Assim, quando se comenta sobre ele, é possível perceber rapidamente que alguns leitores se deparam como desconhecedores das produções deste autor; outros se reconhecem no tom subjetivo que denota em suas narrativas. São colegas de trabalho, pesquisadores e críticos; leitores que ratificam a qualidade textual produzida por ele.
Mas, é bem verdade que sua produção literária, apesar de trazer enfoques sobre a expressividade amazônica, transgride o convencionalismo regionalista apontando para deslocamentos transfronteiriços, pontuando relações culturais de um Brasil diverso, denuncias sociais de maneira inteligente em uma técnica textual requintada.
É este viés de entendimento que me trouxe a observar sua mais recente obra: uma coletânea de crônicas publicada em diversos periódicos brasileiros que foi lançada em meados de 2013 pela Editora Companhia das Letras. Assim, ela se junta às suas outras obras, reafirmando a qualidade técnica do autor.

1. O VIÉS DE ENTENDIMENTO
Com temáticas que vão desde os experimentos vividos durante os tormentosos anos da ditadura militar que acometeu a nação brasileira; percorrendo por seus deslocamentos pelos estados americanos, brasileiros e tantos outros espaços; vagueando em um fluxo de memoria que dão, aos poucos, significados a denuncias, atrocidades e alegrias entre as personagens em suas mais diferentes performances, digo isto no sentido de Benjamin (1996).
Confesso a vocês que quando soube do lançamento da obra fiquei no aguardo para poder lê-la. Algumas semanas depois de ser lançada eu me encontrava em viagem ao sudeste brasileiro e em meu retorno, enquanto aguardava o horário do voo, em um dos frenéticos aeroportos que por lá existem, caminhava pelo saguão observando as coisas, quase que sem rumo certo. Esses passeios em que os olhos percorrem vitrines repletas de belas paisagens e iguarias do lugar, mas que dificilmente nos demonstram as mazelas que ainda permanecem escondidas pelos discursos e práticas “politicamente corretas”.
Na ocasião me deparei com a obra que destoava em uma das prateleiras dessas livrarias que existem nesses locais e que sempre tentam nos encantar com espaços repletos de leituras que, supostamente, nos ensinariam: enriquecimento rápido, técnicas e etiquetas, erotismos ou a notícia divulgado pelas mídias sobre o último vestido usado por um/a artista famoso/a.
Adquiri a obra. Desde então se tornou leitura constante. Sou sabedor de que ela subdivide-se em partes que abordam específicas reflexões, bem como seu gênero é específico; porém, deixo essas preocupações para outros leitores que, disto, queiram fazer uso. O que me ocupo neste texto é a interculturalidade apontada na referida obra. Com esta preocupação, a última crônica da coletânea, me conduz a uma narrativa que descreve a presença de turistas na região ondes e localizam as ruinas dos Setes Povos das Missões, estremo sul brasileiro.
Tal crônica faz inferências a Guerra Guaranítica (GOLIN, 1997); confronto de grande violência que, como tantos outros de nossa história - oficial e oficiosa – brasileira são omitidos nos livros veiculados em nossas escolas. Isso, presentifica-se no fragmento que abre este texto que menciona a maneira resistente presentificada na fala de Yu Hu, personagem da narrativa, e nos conduz a buscar mais detalhes desta questão.
Ao que consta1, o confronto violento aconteceu entre o povo Guarani contrários a soldados portugueses e espanhóis em função da demarcação da fronteira que separaria as terras portuguesas das espanholas, na América Latina. Isto eclodiu em função da assinatura do Tratado de Madri2, mais precisamente no ano de 1750.
A região tornou-se o marco divisório da tríplice fronteira entre Brasil, Uruguai e Argentina. Este local era habitado pelo Povo Guarani que, com essa atitude, teriam que definir sua nacionalidade e entregar suas terras aos países que agora se constituíam enquanto Estado Nação.
Nesse período, os jesuítas já atuavam nessa região e, alguns destes, foram grandes aliados dos Guarani, pois viam naquele ato a agressão aos direito de tais povos.
Devo ressaltar que essa região foi local dos aldeamentos feitos para a catequização dos sujeitos étnicos por parte dos Jesuítas (GOLIN,1997). Destaco ainda que, os sete aldeias que foram formadas para esse fim são apenas a reorganização de povos que, em momentos anteriores a 1687, foram destruídas pelo avanço dos Bandeirantes em busca de minérios. São elas: São Francisco de Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custodio. Como resultado desses aldeamentos surgiram diversas cidades e em algumas delas, as ruínas que ficaram desse aldeamento tornaram-se pontos turísticos.
É sabido que, por volta de 1760, os resistentes foram praticamente exterminados pelo exercito espanhol/argentino e português/brasileiro em um confronto que perdurou por dois logos anos, marcado por esquartejamentos, estupro de mulheres e massacre de crianças étnicas (QUEVEDO, 1996).

2. PARA ALÉM DA INFERÊNCIA
Para além desta relevante inferência, denunciada na voz do personagem Yu Hu, talvez possa ser alongada, mais ainda, a observação sobre o texto, tendo por referência o fragmento a seguir, vejamos:

“Bebeu àgua do cantil e fez um gesto contrário com a cabeça. Eu me refugiara na sombra de uma parede de pedras, mas Yu Hu não saiu do sol. Era moreno, e seu rosto asiático podia ser também indígena.
‘Às vezes recitava poemas sobre a morte’, ele prosseguiu. ‘Quem, diante da Garganta do Diabo, a um passo desse abismo cercado de rochas e àgua, não pensa na morte? Eu dizia: Esse abismo sem fundo, esse abismo quase infinito não nos remete ao nosso destino comum?’. Eles me olharam com ar pensativo. Refletiram sobre minhas palavras, sobre a vida e seu avesso: o silêncio eterno [...]”.
 (HATOUM, 2013, p. 280)
            É possível contextualizar o fragmento com o que pensadores sobre questões da “pós-modernidade” - como Marcos Reigota (2003) e Huarley Monteiro (2013) - afirmam sobre a relevância dos escritos de Hatoum para se pensar a sociedade contemporânea. Apontam eles para elementos da alteridade, deslocamentos, diversidade, paisagens em transformação, famílias desintegradas. Narrativas denunciadoras de cotidianos, por vezes trazidos à tona em fluxos de memórias, contextos favoráveis e significativos para busca de entendimento de relações culturais no mundo contemporâneo (HALL, 2006), (GUIMARÃES, 2009), (BARCELOS, 2006), (CANCLINI, 2008).
Para além destas reflexões, é importante ser evidenciado ainda, apontamentos que nos conduzem a questões sobre identidades. Vejamos o fragmento a seguir:
“Perguntei se era bilíngue.
Sem nenhum pedantismo, disse que poderia reverência a lua em seis idiomas. O pai de José Yu Hu era um Chinês de Goa; uma brasileira de Foz do Iguaçu, neta de índio.
‘Nasci a poucos metros do rio Paraná’, ele disse. ‘Cresci na tríplice fronteira, ouvindo o espanhol paraguaio e argentino, ouvindo o cantonês falado por meu pai e o português materno. Essas três línguas não são menos familiares para mim do que a paisagem de Foz, Puerto Iguazu e Ciudad del Este.
(HATOUM, 2013, p.280)
É fato que reflexões sobre identidade vêm sendo alvo de constantes discussões e debates entre pensadores das ciências sociais. Neste sentido, tanto Hall (2006) quanto Canclini (1995), argumentam que as relações contemporâneas são provocativas e puseram em evidência a fragilidade de conceitos que antes norteavam o pensamento sociológico. Hoje, esses entendimentos, já fragilizados, vieram a tona, trazendo para o centro dos debates as encruzilhadas indenitárias que expuseram sujeitos em inter-relações culturais, constituindo-se nas interfaces do mundo pós-moderno.
Sobre este ponto, Hall (2013, p.09) afirma que “a identidade somente se torna uma questão quando está em crise, quando algo que se supõe como fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza”. Baseado nisso, pode ser visualizado o entendimento da fragmentação da identidade do sujeito contemporâneo resultante das transformações na dinâmica das sociedades.
Este sujeito da pós-modernidade não possuiria uma identidade permanente e fixa, mas sim pautada na heterogeneidade, dinamizada historicamente nas relações estabelecidas socialmente, superando o pensamento unificador iluminista. Nesse entendimento, o sujeito possuiria identidades em si que se articulariam em consonância com os sistemas culturais em que ele está inserido. Penso que seja na tensão, no descentramento, que este sujeito pós-moderno se constitui socialmente dinâmico.

CONSIDERAÇÃO, APENAS CONSIDERAÇÕES...
Neste sentido, pensar a identidade atualmente como única e heterogênea é perder de vista o processo de mudança pelo qual a sociedade contemporânea vem passando, deslocadora das estruturas sócias e apontando para instabilidades, dessa referência, nos grupos sociais, o pertencimento enquanto busca e referência contemporânea.
Assim, a crônica nos conduz para questões de identidade cultural no mundo contemporâneo. Assim, levanto alguns questionamentos: para onde realmente apontaria o mundo dinâmico em que vivemos? Que acontecimentos contribuíram para que nos encontrássemos nesta encruzilhada indenitária? O que ainda nos é pertinente que apontariam nossos pertencimentos?
É possível que a fala de Yu Hu “... Hoje em dia os turistas fotografam tudo, sem conhecer nada. Não querer ouvir histórias do lugar, nem a história do lugar.” (HATOUM, 2013, p. 279) traduza essa ausência de vontade, não apenas de querer ouvir a/as história/s do lugar, mas também de não querer ouvir o outro e sua trajetória de vida. Isto talvez seja reflexo do silêncio ensurdecedor que a indiferença causa entre as pessoas e que se naturalizou no mundo contemporâneo. A fala do personagem Yu Hu traduz bem esta questão e aponta ainda vozes anônimas que denunciam inquietudes comuns sobre questões de raça, gênero, orientação sexual e opção religiosa.
Para além deste ponto, envolveriam ainda a noção do que nos é pertinente. Talvez mais agravante que isto, seja o abismo³ que acomete as relações humanas, onde as desesperanças acabam se tornando angústias comuns frente às relações de poder sobre aquilo que nos é singular e que acabam sendo naturalizadas como normais.

Notas explicativas
Esta temática é abordada de maneira pontual em<http://www.guerras.brasilescola.com/seculo-xvi-xix/guerras-guaraniticas.htm>. 12/10/2013.
² Idem.
³ Refiro-me a ‘Garganta do diabo’, queda d’água das Cataratas do Iguaçu, localizada na Tríplice fronteira da região Sul do Brasil, mais precisamente no Estado do Paraná.

REFERÊNCIAS
BARCELOS, Valdo. Invisível cotidiano. Porto Alegre: AGE, 2006.
BARTHES. R. Análise estrutural da narrativa. Petrópolis: Vozes, 2008.
BENJAMIN, Walter. O Narrador. In: ______. Obras escolhidas I: magia e técnica, arte e política. 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 1996.
CANCLINI, Néstor García. Consumidores & cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: ED. UFRJ, 1995.
 _____. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: EDUSP, 2008a.
GUERRAS GUARANÍTICA. Disponível em <http://www.guerras.brasilescola.com/seculo-xvi-xix/guerras-guaraniticas.htm>. Acesso em:12/10/2013.
GOLIN, Tau. A Expedição: Imaginário Artístico na conquista Militar dos Sete Povos
Jesuíticos e Guaranis, Porto Alegre, Editora Sulina, 1997.
GUIMARÃES, Leandro B. Uma leitura entre a floresta e a escola: um livro, uma década. 2009.Disponívelem:<http://www.smmmfloripa.ufsc.br/leitura_floresta_escola.pdf>.Acesso em: 14 out.2012.
_____; KRELLING, Aline G.; BARCELOS, Valdo (Orgs.). Tecendo a educação ambiental na área cultural. Petrópolis, 2011.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. – 11. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
QUEVEDO, Júlio. A Guerra Guaranítica. Guerras e Revoluções Brasileiras, São Paulo, Editora Ática, 1996.
REIGOTA, M. Trajetórias e narrativas através da educação ambiental. Rio de janeiro: DP&A, 2003.
MONTEIRO, H.M.V. (2012). Relatos de um estrangeiro na Terra de Macunaíma. Revista de Estudos Universitários, 38 (2), 417-436
______, H. M. V. & Reigota, M.. Comunidades como tessituras de pertencimento: Aspectos de la experiência pós-moderna de Brasil. Espacios Transnacionales,v.01, n. 01, p.106-113,Mexico. 01 de octubro 2013.
______, H. M. V. (2013). Narrativas dos moradores da Terra Indígena do Alto São Marcos-RR: Diálogos nas fronteiras do cotidiano escolar. 2013, 111p.,Dissertação (Mestrado em Educação) Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade de Sorocaba. São Paulo, 2013.